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Clube de futebol fundado em 1917, em Dois Irmãos
Publicado em 07/04/2025 01:32
NOTICIAS

Quem passar por uma casa antiga na rua Esteio (quase na descida para o Vale Verde) jamais vai imaginar o tesouro que ela guardou por várias décadas.

Recentemente, no sótão desta casa (que tem na sua fachada a data de sua função – 1.894), foi encontrado um livro-ata com mais de 100 anos e que relata a fundação de um clube que pode mudar a história esportiva da cidade, vindo a ser um dos primeiros clubes existentes em Dois Irmãos – e que não se tinha conhecimento.

 

 

GRE-NAL

 

A fundação deste clube ocorreu em 1.917, portanto, 8 anos após a fundação do Sport Club Internacional (1909), em Porto Alegre e pouco mais de uma década da fundação do Grêmio Foot Ball Porto-alegrense (1903). Inclusive, nas atas é possível perceber termos que remetem à Dupla Gre-Nal (ou aos costumes da época), como “jogo de foot-ball” (assim como o Grêmio) e o próprio nome do time, que é Sport Club, assim como o Inter.

 

NOVA HISTÓRIA

 

O livro registra encontros, festas, reuniões e “match” (jogos, da época) durante três anos da história da fundação de um clube, chamado S.C. Brazil (com ‘z’), datado do início do século passado. Esse ‘achado’ levou o morador Claudionor Vier, o Cláudio, e o vice-prefeito Juarez Stein até o Diário para apresentar este tesouro com um objetivo nobre: reconstruir a história deste clube através da descoberta de familiares dos integrantes do S.C. Brazil.

 

ROMILDA SCHOLLES VIER

 

Mas, o tesouro encontrado na casa de Romilda Scholles Vier, viúva de Renato Vier (que dá nome à rua no Vale Verde) e mãe de Claudio, não pertencia a esta casa histórica de 1.894 citada acima.

O ‘segredo’ não era desta casa, mas, sim, de uma casa mais antiga ainda (em enxaimel) e que existia ao lado, onde hoje existe um atelier de calçados (antigo atelier do Marcelino Vier).

 

Em visita ao Diário quando apresentou o histórico livro-ata, Claudio contou que seu pai, Renato Vier (falecido em 1985) tinha o hábito de guardar livros e materiais históricos. Desta forma, este livro-ata acabou sendo arquivado por seu pai e foi guardado no sótão da casa da mãe quando a casa do suposto proprietário do livro foi desmanchada – na década de 1980.

 

HISTÓRICO

 

Com o falecimento da mãe há alguns anos, foi decidido pelos irmãos que Claudio iria cuidar do inventário e “mexer com a papelada”. Então, coube a ele encontrar, no sótão da casa da mãe, o livro-ata do S.C. Brazil, o qual pode vir a mudar a história dos clubes de futebol de Dois Irmãos, pois até hoje se tem conhecimento de que o Tiradentes teria sido o primeiro time da cidade. Conforme Juarez Stein, este livro-ata é “um documento muito antigo e fala de um clube que nunca se ouviu falar”.

 

Mas, este livro não era do pai de Cláudio, e sim, de um morador vizinho seu, que vendeu sua casa ao Renato Vier. O morador que guardou este livro-ata histórico era Affonso Fick, que pertencia à comunidade luterana dava doutrina para as crianças.

“Foi combinado que enquanto esse senhor vivesse ele continuaria morando na casa antiga e depois que ele falecesse, as coisas e a casa antiga automaticamente ficaria para meu pai”, explicou. E isso que aconteceu, o Affonso morreu no final da década de 70 e “essa casa passou para meu pai”. “Naquela época, essa casa se transformou no nosso ‘paiol’, era onde a gente guardava prensa de banha, feijão, as ferramentas, essas coisas… E as ferramentas que ele tinha e que tinha serventia, nós usamos. E as outras coisas, o pai pegou e guardou no forro da casa da mãe”, relembra, destacando que este livro estava ‘nestes guardados’ até agora.

Quando indagado sobre a destinação desta casa (já que hoje existe um prédio onde funciona um atelier), Cláudio conta que era uma casa enxaimel feita com madeira, barro e palha e que depois foi feita uma troca entre seu pai e o então prefeito Romeo Wolf. “Eram tempos diferentes, então, a negociação entre meu pai e o Romeo era que a Prefeitura faria a calçada na frente da casa e meu pai daria a casa antiga para a Prefeitura”, relembra, frisando que, então, veio um carpinteiro e demais funcionários da Prefeitura e desmontaram e marcaram peça por peça conforme foi desmontado e foi guardado no Vicente Henemann (atual Global). Então, Juarez “abriu um parênteses”, destacando que “o sonho do ex-prefeito Romeo era fazer uma aldeia alemã, como uma vila com igreja e escola antigas” [foi nessa época que Nova Petrópolis construiu a Aldeia do Imigrante].

Em relação ao restante das coisas da casa antiga, como um baú e uma cama antiga, o morador relembra que sua mãe deu ou vendeu para um casal de São Sebastião do Caí que apareceu na cidade comprando ‘essas coisas antigas’. “Então, como esse livro-ata era do futebol a minha mãe guardou, porque meus irmãos eram do futebol, daí ela guardou. O restante ela ‘deu tudo embora’ para esse casal”, conta.

 

Quem era Affonso Fick, o antigo morador que guardou o livro-ata

 

O dono da casa e que guardou o livro-ata foi um dos fundadores do S.C. Brazil: Affonso Fick tem seu nome registrado na ata de fundação do clube.

As terras do Affonso começavam na caixa de água da Corsan (próximo a rua Pedro Gregórius) e ia até a BR-116. Segundo Cláudio, Affonso dava doutrina para as crianças e nos finais de ano ele que organizava os corais para cantar nos cultos. “Ele tinha livros, cadernos, livros antigos que escrevia, tinha livros do coro da comunidade e isso tudo o pai pegou e guardou no sótão da casa da mãe”.

 

Familiares podem ajudar a contar a história do S.C. Brazil

 

Este livro-ata histórico pode estar contando a história do primeiro clube esportivo da cidade e um dos primeiros do Estado. Mas, a motivação desta pauta não é mudar a história, mas, apenas fazer com que possa se fazer a descoberta de mais fatos históricos e descobrir até familiares destes associados para ajudar a contar parte da história do clube e também de Dois Irmãos. Sim, por este motivo, esta matéria foi arquivada para ser publicada neste caderno. Então, a pergunta que fica é: alguém tem mais documentos em casa para ajudar a descobrir mais fatos acerca deste clube?

 

ONDE ERA O CAMPO?

 

Depois de analisar o livro-ata, Juarez Stein conta que os associados do clube fizeram tudo certinho, com várias anotações de festas, jogos e eleições das novas diretorias. Contudo, algo chamou a atenção dele: “Eles não mencionaram onde era o campo de futebol deles”. Além disso, o local ou sociedade onde foi realizado o baile também não está no livro ata: “Em duas ocasiões fizeram baile, fizeram um evento, agradecem as moças que deixaram o salão organizado, mas não dizem onde foi realizado este baile”, questiona Juarez.

 

FORÇA COMERCIAL

 

Na listagem de nomes, alguns deles podem não ter sido jogadores, mas eram associados. “Este clube pode demonstrar a que seria a força comercial mais ao norte de Dois Irmãos. Boa parte da força econômica está aqui neste time”, destaca Juarez, pois ele pesquisou o nome de alguns integrantes do clube, onde aparecem “figuras importantes da economia da cidade, tanto que dois que tiveram comércios na cidade”. Entre os exemplos, Theobaldo Engelmann era avô de empresários ligados a indústria calçadista,e enquanto Anibal Krug tinha uma cervejaria.

 

LEOPOLDO PETRY

 

Outro ponto que chamou a atenção de Juarez (que tem mais de 10 livros escritos sobre a história de Dois Irmãos) é que o livro traz, entre os vários nomes, um senhor falecido que está no cemitério evangélico: “Tem uma sepultura ali, o nome é Leopoldo Petry, que nasceu em 1876 e morreu em 1921” [e não foi o ex-prefeito de Novo Hamburgo].

 

“Escrita à pena?” A primeira ata é do ano de 1917

 

As reuniões do time eram feitas na frente da igreja do relógio (Evangélica) onde existia um salão de bailes, bar e armazém. A primeira ata que falava da fundação foi anulada. Então, em uma página seguinte, há outra ata sobre a criação do S.C. Brazil.

 

CONFIRA A ATA 1:

 

“Aos vinte e um dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e dezessete, presentes 11 sócios reunido na casa de Luiz Petzinger, a fim de tratar da fundação de um Club de Foot-Baal, do nome que devia se tornar o mesmo, sendo por unanimidade de votos proclamado o nome de Sport Club Brazil e em seguida tratou-se de eleger a primeira diretoria, que deve reger o destino da mesma durante o ‘anno’ de 1.917 e 1.918, sendo proclamada a seguinte diretoria: Carlos Leuckert, presidente; Luiz Petzinger, vice-presidente; Alban Petry, 1º secretário; Theobaldo Engelmann, 2º secretário; Arthur Petry, 1º ‘thesoureiro’; Pedro Müller Filho, 2º ‘thesoureiro’; 1º capitão, Armandio Schuler, 1º guarda-Sport, Anibal Krug; Alfonso Fick, 2º Guarda Sport, Arthur Lampert e Osório Mello, respectivamente, 1º e 2º diretores, deixando de se eleger o ‘porta standarte’ e o 2º capitão por falta de sócios, os quais serão ‘opportunamente’, quando tivermos mais número de sócios. Não havendo mais nada a tartar, foi encerrada a sessão, que vai ‘assignada’ de toda a ‘directoria’.

 

Dois Irmãos, aos 21 de novembro de 1917.

 

Carlos C. Leuckert

Luis Petzinger

Alban Petry

Theobaldo Engelmann

Artur Petry

Pedro Müller Filho

Amandio Schuller

Anibal Krug,

Affonso Fick,

Osório Mello

Artur Lampert

 

A ÚLTIMA ATA

 

O livro-ata começa na ‘acta’ 01 e vai até a ata de assembleia geral número 8, depois disso, várias páginas do livro foram arrancadas.

Nesta última ata, diz que a reunião foi realizada ano dia 8 de abril de 1920 na sala do senhor Luiz Petzinger, que foi convocada para tratar de uma festa esportiva, a fim de eleger a comissão que cuidaria do evento”.

 

EM TEMPO

 

Quando encontrou o livro-ata, Cláudio procurou Juarez Stein pelo seu trabalho em relação a história e pediu para que ele contatasse Mauri ToniDandel do Diário para apresentar o livro a fim de publicar no Túnel do Tempo.

A visita aconteceu em abril deste ano, mas o conteúdo ficou arquivado para ser publicado no tradicional Especial Histórico do Aniversário de Emancipação).

 

CURIOSIDADES DO LIVRO-ATA

 

– O livro temo adesivo da Livraria Universal Agência de ‘Jornaes’ – fábrica de livros em branco, de Porto Alegre, rua dos Andradas, 501.

– A ‘acta’ de assembleia 1 foi tornada sem efeito.

– Na página 2, tem a ata de fundação do time (transcrita nesta reportagem).

– Na página 3, inicia a listagem dos sócios ‘effectivos’.

– Na página 5, continua a lista de sócios, do 25 ao 58.

– Na página 6, a ‘acta’ de assembleia geral número 3, que escolheu nova diretoria.

– Da página 7 à 9, o quadro de sócios aumenta e segue do 58 até o 94, onde também teve ata para tratar de uma ‘festa esportiva’ em 1918.

– Em seguida, seguem a ‘acta’ 5 a 8, sobre realização de ‘festas sportivas’ (‘match’ – jogo – seguido de baile) e troca de diretoria. A última ata foi feita no dia 8 de abril de 1920.

 

Veja se você conhece algum destes nomes

 

Se hoje é difícil para uma sociedade, time ou partido político conseguir 100 nomes ativos, imagine o que significam estes números em 1917.

Sim, para a época, o número de associados do S.C. Brazil é algo quase surreal. São quase 100 associados há mais de 100 anos, quando a cidade tinha bem menos moradores.

 

VEJA SE VOCÊ CONHECE

 

Dessa forma, estamos publicando a listagem de todos os associados que constam no livro histórico do clube. Sendo assim, é feito um pedido a cada leitor para que verifique se algum destes nomes não é de algum ancestral seu, para, a partir daí, ser possível começar a contar um pouco mais da história do S.C. Brazil e sua relevância no cenário esportivo local e também como clube social.

Este é, na verdade, o objetivo desta publicação: encontrar familiares dos associados do clube para poder contar a história deste que pode ter sido o primeiro clube esportivo de Dois Irmãos e um dos primeiros do Estado do Rio Grande do Sul.

 

LIVRO-ATA

 

Dá página 3 até a 9, intercalada por atas de reuniões, foram publicadas listas dos sócios do clube.

Na página 3 estão os primeiros associados, do número 1 até o 27. Em listagem seguinte, estão os demais nomes. Além dos nomes dos associados, percebe-se que posteriormente foram feitas anotações como falecimentos, licenças e até demissões.

 

Sócios ‘Effectivos’

 

Os associados que pagam sua jóia e mensalidade são ‘sócios effectivos’ e esses são os seguintes:

 

1- Alfredo Muller

2- Alban Petry

3- Luiz Petzinger

4- Leopoldo Petry

5- Amandio Schuter

6- Theobaldo Engelmann

7- Balduino Lampert

8- Affonso Fick

9- Anibal Krug

10- Artur Petry

11- Willy Petzinger

12- Artur Lampert

13- Walder Muller

14-Thealmo Konrath

15- Antonio Wingert

16- Affonso Saueressig

17- Albino Linck

18- Fernando Muller

19- Oscar Schneider

20- José Staudt

21- Artur Müller

22- Emilio Müller

23- Pedro Müller Filho

24- Carlos C. Leuckert

25- Osorio Mello

26- Carlos Konrath Filho

27- Theodoro Konrath

28- Fernando Kuntzler

29- Emilio Fick

30- Jacob Schmitt Netto

31- Frederico G. Braun

32- Clemente Jung

33- João Kordorfer

34- Artur Lorentz

35- Edmin Dinstmann

36- Guilherme Kollet

37- Balduino Schneider

38- João Mello

39- Alfredo Dexheimer

40- Jacob Blos

41- Waldemar Jung

42- Alfredo Arnecker

43- Carlos Kappes

44- Christiano Dienstmann

45- Otto Schneider

46- Arno Prass

47- José Vier

48- João Klauk

49- Alfredo Bender

50- Friderico Guilherme Mayer

51- Leopoldo Werle

52- Willy Feldens

53- Otto Muller

54- Arthur Sander

55- Jacob Lampert

56- Germano Leuckert

57-Helmutt Hoppen

58- Osvaldo Krammer

59- Arthur Dienstmann

60- Carlos Dienstmann

61- Adolfo Schuch

62- Arthur L. Konrath

63- Jacob Zimmer

64- Affonso Kieling

65- Pedro Antonio Mello

66- Jacob Kappes

67- Theobaldo Auler

68- Emilio Becker

69- Carlos Becker

70- Arthur Engelmann

71- Felippe Arnecke

72- Otto Henrichs

73- Theobaldo Feiten

74- Guilherme Hugo Hoppen

75- Alfredo Collet

76- Emilio Engelmann

77- Carlos Gallas

78- Thobaldo Blauth

79- Reinaldo Koch

80- Bendo Flech

81- Pedro Frederico Gallas

82- Arnaldo Pereira da Silva

83- Theobaldo Schneider

84- Willy Skonetzky

85- Fridolin Schuck

86- Balduino Sander

87- Nicolau Rausch

88- Frederico Hennemamm

89- Antonio Vargas

90- Henrique Meyrer

91- Edmundo Henrich

92- Guilherme Muller

93- Leonardo Lehnem

94- Frederico Jochann

 

*Lista que consta no livro-ata de 1917, antecipamos escusas caso algum nome não tenha sido transcrito de forma correta em virtude da interpretação da letra.

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