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Dois-irmonense encara 5.364 metros de altitude e chega ao Acampamento Base do Everest
Publicado em 12/04/2025 02:07
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                Era 26 de março quando o dois-irmonense Thobias Eduardo Johann, 36 anos, iniciava a sua mais recente e maior aventura: o trekking com destino ao Acampamento Base do Monte Everest, pelo Nepal, chegando a uma altitude de 5.364 metros.

A aventura aos pés da maior montanha do mundo durou 14 dias. Somando ida e volta, foram 130 quilômetros percorridos a pé. O trajeto trouxe paisagens lindíssimas e uma verdadeira imersão na cultura do povo Sherpa.

Natural de Dois Irmãos, Thobias é Engenheiro de Radiodifusão e mora há mais de dois anos em Floripa, Santa Catarina. Ele conta que a ideia de realizar o trekking vinha de alguns anos, no entanto, começou a ser planejada, efetivamente, na metade de 2024.

Em entrevista ao Jornal Dois Irmãos, Thobias conta sobre a aventura, falando sobre o trajeto, os desafios e curiosidades. Confira!

Como surgiu a ideia de fazer o trekking até o acampamento base do Everest?

Thobias – Sempre fui interessado em aventura, mas nos últimos anos fiquei mais obcecado pelo Everest. Então tenho lido bastante sobre o assunto, assistido muitos filmes e documentários sobre montanhistas, a história dos escaladores e tudo mais o que envolve o Everest. Como escalar o Everest estava fora do meu alcance pela complexidade, custo e tempo, decidi fazer o trekking até o acampamento base para viver parte dessa experiência e chegar aos pés dessas montanhas gigantes.

Já havia feito algo parecido?

Thobias – Costumo fazer muitas trilhas e trekking no Brasil no meu tempo livre. Já fiz algumas viagens pela América do Sul, buscando destinos relacionados a esse tipo de aventura, como Patagônia, Atacama e Peru. Mas essa foi a primeira vez que fiz um trekking de tantos dias e tão desafiador.

Encarou a aventura sozinho ou com amigos?

Thobias – Eu gosto de encarar essas aventuras sozinho. Sempre acabo encontrando pessoas interessantes pelo caminho. Dessa vez, fiz amizade com um polonês, Karol, que estava fazendo exatamente a mesma rota que eu. Isso foi muito bom, pois nos momentos de maior perrengue, um ajudava o outro.

A altitude foi o seu o maior desafio? Além dela, o que mais te desafiou?

Thobias – A altitude sempre é um desafio. Nós que moramos ao nível do mar não estamos acostumados ao ar rarefeito e isso causa efeitos no nosso corpo. Dor de cabeça, náusea, falta de apetite e dificuldade de respirar são comuns acima dos 4000 metros. E se não forem tratadas com cautela, podem causar problemas maiores e até, em casos extremos, levar a óbito. Como o Everest Base Camp (EBC) fica a 5.364m, é um desafio e tanto. Por isso, é importante ir subindo com calma e fazendo dias de aclimatação para o corpo se acostumar com a falta de oxigênio e se adaptar. Mas o frio também foi um grande desafio; as noites eram extremamente frias.

Qual foi a temperatura mais baixa que encarou?

Thobias – Em Lobuche e Gorakshep, as noites chegaram a -20°C. Mas onde passei mais frio foi no acampamento alto do LobuchePeak, a 5.300m, quando estava dormindo em barraca. Não sei precisar a temperatura que estava, mas era frio demais.

Você fez alguma escalada na região?

Thobias – Sim. Além do trekking para o EBC, incluí no roteiro uma escalada de uma montanha de mais de 6.000m, o Lobuche Peak. Saímos da vila de Lobuche e fomos até o acampamento alto do Lobuche para nos prepararmos. Infelizmente, meu amigo polonês ficou muito mal por conta da altitude e teve que desistir da escalada, retornando para uma altitude mais baixa para evitar problemas maiores. Assim, às 2h da madrugada, partimos, eu e o guia de escalada, rumo ao cume do Lobuche. Iluminando o caminho com as lanternas de cabeça, fizemos a primeira parte da escalada na rocha. Após mais de uma hora, colocamos os crampons nas botas e começamos a escalada no gelo. A escalada dessa montanha, assim como no Everest, é feita por cordas fixas. Foi extremamente exaustivo toda subida. Muito frio, dificuldade de respirar o ar gelado e o coração batendo a mil. Às 7h17 da manhã chegamos ao cume em 6.119m de altitude e eu pude ver o sol nascer por trás do Everest.

Em algum momento, pensou em desistir do destino final?

Thobias – Desistir de algo assim é algo muito difícil para mim, especialmente depois que já comecei. Mas dessa vez eu peguei uma inflamação na garganta no dia que cheguei ao EBC e então quase desisti da escalada ao Lobuche. Consegui consultar num posto de saúde em Gorakshep (o posto de saúde mais alto do mundo) e então me deram um antibiótico. Dois dias depois, estava bem e decidi manter a programação da escalada.

Qual o momento mais emocionante e marcante da viagem?

Thobias – Chegar ao EBC e ao cume do Lobuche foi extremamente especial. Mas pequenos detalhes do trekking que nos emocionam de verdade. Às vezes só de estar caminhando, olhando aquelas paisagens, aquelas montanhas, nos trazem um sentimento muito bom e chega a escorrer uma lágrima. Mas confesso que um dos momentos mais emocionantes foi no segundo dia de trilha, quando cheguei a Namche Bazaar (a capital dos Sherpas) e vi duas crianças jogando basquete. Não pensei duas vezes e me juntei a elas, com a mochila e tudo. O povo Sherpa é muito receptivo aos visitantes, e as crianças, sempre sorridentes, dizendo Namastê, mostram a simplicidade e hospitalidade desse povo. Naquele momento eu estava feliz de verdade.

“Os sherpas são um povo incrível que vive nas montanhas do Himalaia, principalmente no Nepal, e têm uma ligação forte com o povo do Tibete — tanto que seus ancestrais migraram de lá há séculos. Por isso, compartilham muito da cultura tibetana, como a língua, os costumes e o budismo, que está bem presente no dia a dia deles. Eles ficaram mundialmente conhecidos por ajudarem nas expedições ao Everest, com uma habilidade absurda para lidar com o frio, a altitude e os caminhos perigosos.

Essa viagem me proporcionou ficar imerso na cultura do povo Sherpa. Entender seus costumes, estilo de vida, comida. Eles são muito hospitaleiros e sempre nos recebem com um sorriso e um Namastê. Boa parte deles trabalha como carregadores.

Como não existe estrada entre as vilas, todo transporte de material é feito pelos Sherpas, mulas ou Yaks nas altitudes mais elevadas. Os Sherpas carregam nas costas todo tipo de material, comida, bebida, gás de cozinha, material de construção, tudo, mas tudo mesmo. Cheguei a ver um carregando sozinho um forno de pizza que devia pesar uns 80kg”.

Roteiro

“A aventura começa em Kathmandu, a capital do Nepal. Lá pegamos um voo para Lukla, considerado o aeroporto mais perigoso do mundo pelas condições da pista em meio às montanhas. Daí, seguem oito dias até o acampamento base do Everest, passando por diversos vilarejos. Ao total, foram 14 dias e 130km percorridos a pé. Durante o percurso ficamos em hospedagens chamadas de “teahouses”. São como pousadas simples e rústicas. Elas oferecem refeições quentes da culinária local e também comidas ocidentais, como pizza e hambúrguer.

Quanto mais alto o vilarejo, menos condições eram oferecidas e mais caro as refeições. Por exemplo, carregar os equipamentos eletrônicos e Wi-Fi era gratuito até o terceiro dia em Namche Bazaar; depois era necessário pagar extra por isso. Até o sexto dia em Dingboche era possível ter banho quente (pagando por isso); depois o banho era somente com lenço umedecido. Então, esses dias nos vilarejos mais altos, foram um perrengue e tanto”.

Hillary Bridge

A Hillary Bridge é uma ponte suspensa a 135 metros de altura sobre o Rio DudhKhosi e tem mais de 60 metros de comprimento. É uma das principais vias de acesso a NamcheBazaar, considerada a capital Sherpa. Durante o trekking para o EBC, é necessário atravessar cerca de 10 pontes suspensas. FONTE JORNAL DOIS IRMÃOS

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