Um homem de 65 anos, morador de Dois Irmãos, está vivendo um drama na saúde pública. A família procurou a redação do JDI, nesta segunda-feira (26), para relatar o caso.
– Meu pai fez uma cirurgia da coluna em janeiro. Foi para Canoas e voltou. Agora, teve uma outra complicação, desta vez no quadril. Ele precisava fazer uma drenagem e uma raspagem óssea da parte necrosada. Internou aqui em Dois Irmãos no domingo do dia 18, e na terça-feira, dia 20, tinha uma consulta marcada com um neurocirurgião, referente à cirurgia que ele tinha feito na coluna. A princípio, o hospital tinha conseguido uma internação com leito em Canoas, no Nossa Senhora das Graças. Chegando lá, meu pai simplesmente foi jogado em cima de uma maca e deixado lá. Não foi feito nenhum dos procedimento que seriam feitos, como a drenagem dos líquidos, muito menos a cirurgia que ele precisa – contou uma das filhas.
Ela diz ainda que a família questionou a Secretaria Municipal da Saúde:
– A resposta que eu tive do secretário é que o hospital de Canoas está em colapso. Minha pergunta, então, foi: por que eles tiram um paciente de Dois Irmãos, se vai chegar lá e não vai ter leito disponível para ele? Que tivessem deixado meu pai aqui, com medicação para dor, para ao menos podermos estar perto dele. Minha família não tem mais condições de pagar cuidadora. A gente gastou tudo o que podia no ano passado, com tudo o que ele precisava, e foi muito difícil. Por que eles levam um paciente para Canoas, sendo que o hospital está em colapso, nas palavras do próprio secretário?
O que diz o Hospital São José
O diretor técnico do Hospital São José, Dr. Thiago Serafim, explica que a referência de Dois Irmãos para neurocirurgia no SUS é o Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas, por isso não havia como encaminhá-lo para outro local.
– É um paciente que já tem vínculo com o Nossa Senhora das Graças, pois fez uma neurocirurgia da coluna naquele hospital recentemente. Ele consultou conosco por dor na coluna, quando foram feitos exames mais aprofundados na Emergência e foi demonstrado que ele precisaria de uma nova avaliação neurocirúrgica. Fizemos contato com a equipe de lá, que analisou os exames feitos em nossa Emergência e aceitou o paciente para investigação em ambiente hospitalar com a equipe de neurocirurgia. Diante de um paciente com necessidade de avaliação neurocirúrgica, a gente envia para nossa referência pactuada. O paciente poderia ter ido para uma avaliação, descartado e voltado. Mas, como a equipe internou ele lá, provavelmente vão fazer mais exames ou investigar o caso mais a fundo – comenta o diretor.
Questionado se ele não poderia ter ficado em Dois Irmãos, já que acabou sendo colocado numa maca, o Dr. Thiago afirma que quem decide onde o paciente vai ser alocado é o próprio núcleo de regulação interna do hospital.
– O que a gente fez foi pedir autorização do hospital para que aceitasse o paciente para avaliação. O paciente foi aceito, com autorização do núcleo de internação. Agora, onde esse paciente está alocado, é uma regulação interna deles; não temos como agir nessa questão. E o paciente não pode seguir tratando aqui porque precisa de avaliação de especialista de alta complexidade, que é um neurocirurgião, e não dispomos desse profissional e nem de capacidade técnica para seguir tratando aqui. Quando a equipe de neurocirurgia der alta para o paciente e ele necessitar de cuidados clínicos, esse paciente pode retornar ao nosso
hospital para seguir algum tipo de tratamento. Mas, primeiramente, precisamos de uma avaliação e alta da equipe de neurocirurgia – acrescenta ele.
O que diz a Secretaria da Saúde
– Compreendemos a preocupação da família e reiteramos que o município, por meio da Secretaria da Saúde, está empenhado em garantir o melhor atendimento possível ao paciente e a seus familiares. Durante o período em que esteve internado no Hospital São José, todos os procedimentos técnicos foram realizados sob a responsabilidade da equipe médica daquela instituição. Destacamos que se trata de um caso de alta complexidade. Por essa razão, o Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, foi acionado como referência SUS especializada, buscando sempre proporcionar os melhores cuidados e suporte necessários ao paciente – diz o secretário Nilton Tavares.
Alerta de colapso em Canoas
Reportagem do portal GZH, na última semana, expôs que o sistema de saúde de Canoas está em alerta. Os motivos são a superlotação e a falta de recursos. De acordo com o município, a estrutura está colapsando e não há como manter os serviços atuais.
– Com três hospitais, a cidade é referência para 157 municípios da região e atende cerca de 2 milhões de pessoas. Na última terça-feira (20), o sistema de saúde operava com lotação de 300%. Atualmente, a cidade conta com dois hospitais ativos: o Hospital Universitário e o Nossa Senhora das Graças. As instituições operam com problemas. De acordo com relatos de pacientes, profissionais e entidades, há falta de insumos básicos, problemas em escalas, atraso no pagamento de médicos e falta de depósitos de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e impostos – diz um trecho da matéria.
A redação entrou em contato com assessoria de comunicação do Hospital Nossa Senhora das Graças, mas até o fechamento da matérias não obteve retorno. FONTE JORNAL DOIS IRMÃOS