RADIO VISÃO 87.7 FM DOIS IRMÃOS - RIO GRANDE DO SUL
Dois Irmãos – 66 anos: a dignidade do trabalho na roça desde antes de Dois Irmãos ser município
DESTAQUES DAS ULTIMAS 24 HORAS
Publicado em 11/09/2025 03:13
NOTICIAS

Para os imigrantes alemães e seus descendentes, o trabalho possui uma significação muito presente, embutida principalmente na questão religiosa. Lutero tem importância na conceituação do trabalho para os imigrantes. Na doutrina luterana, o trabalho dignifica o homem; o trabalho se dá na supressão do humor e da alegria na realização da tarefa, a favor da ênfase na disciplina aplicada ao ofício. A dignidade fica ao lado de quem trabalha, ao contrário daqueles que não têm nenhuma ocupação e são vistos como vagabundos, incapazes de consideração e indignos.

Depois de terem sido colocados em seus lotes de terras no meio da mata virgem, construíam cabanas improvisadas para passar as primeiras semanas até que um casebre melhor estivesse pronto. Do Governo receberam sementes e ferramentas. Era necessário sobreviver para não sucumbir na mata virgem.

O colono retratado junto ao porco gordo em Dois Irmãos nos anos 50 – Acervo Sandro Blume

PERTENCENTE A SÃO LEOPOLDO

Na antiga Colônia alemã de São Leopoldo, à qual pertencia Dois Irmãos, caiu a primeira semente da mão provida do colono; e onde frutificou a primeira gota de seu suor, na fertilização da terra. Pedro Weingärtner, um pintor de origem alemã, nascido no Rio Grande do Sul, em 1853,na imagem, intitulada Tempra Mutantur pintada em Roma no ano de1898, apresenta a dificuldade vivida pelos imigrantes recém-chegados ao Rio Grande do Sul. A pintura remete a elementos como os sulcos abertos na terra para o provável plantio e os troncos caídos, demonstrando igualmente parte do esforço físico feito pelo casal ao longo do dia, acentuando o discurso do imigrante trabalhador.

Galinheiro da propriedade de Querino e Anita Klauck na Cristo Rei, anos 60 – Querino hoje é morador da cidade de Dois Irmãos e rege o coral Santa Cecília

CALÇA DE UNIFORME MILITAR

Outros aspectos que chamam a atenção é a postura do personagem masculino e sua calça de uniforme militar, além de sua marcada expressão de cansaço. Teriam trabalhado exaustivamente o dia todo. Observa-se também que a mulher analisa em suas mãos os calos dos primeiros dias de trabalho na roça.

URWALD

Para os imigrantes pioneiros, o encantamento pela mata foi tamanho, …que o termo ‘mata virgem’ – ‘Urwald’ – vinha acompanhado por um apelo irresistível. Do quotidiano dos imigrantes, faziam parte termos como ‘colono da mata virgem’, ‘pioneiro da mata virgem’, (Urwaldbauer, Urwaldpioner). Afinal, naqueles tempos distantes, era preciso sobreviver e para isso, conquistar especo junto à mata virgem.

Senjo Kunzler e a primeira motoserra do Birckental

As imagens do século passado

Antigas fotografias retratam imigrantes e seus descendentes ao lado de troncos recém abatidos. Num tempo em que fotografias eram artigos raros, é significativo o fato de que famílias inteiras faziam questão de ser registradas empunhando facões e machados, com os pés apoiados sobre árvores recém-abatidas. Isso também fica evidente nas cartas e nos diários desses imigrantes, que costumavam relatar, com orgulho, a transformação imposta ao meio ambiente – ou, em outras palavras, o novo papel por eles assumido, de “senhores” da floresta.

Prof.Edvino Utzig e o seu porco gordo nos anos 70 em Picada São Paulo (o patriarca da família Utzig que hoje tem frigorífico de aves)

Sabe-se que naquela primeira metade do século XX, o produto que mais rendia dinheiro ao colono, além da plantação de feijão e batata inglesa, era a criação do porco. E para engordar o porco, os colonos plantavam milho e aipim. Do porco gordo era obtida a banha, percebida como o “ouro branco” da época. Dessa forma, a banha era produto natural da cadeia produtiva do milho e do porco. O milho como alimento animal transformado em gordura, rendia três vezes mais dinheiro do que a sua venda na forma de grãos. A banha era obtida a partir da fritura das partes gordurosas no tacho preto, que produziam também o torresmo. O azeite não era conhecido naquela época.

Alípio Blume e Felipe Aloysio Blume removendo toras de madeira do traçado onde passaria a BR 2 (atual BR-116)

DA ALEMANHA PARA O RS

Ainda na Alemanha, aqueles que migrariam para o Rio Grande do Sul conheciam trigo, cevada, repolho, batata inglesa, lentilha, videira, leite, carne de porco e defumados. Aqui, muitos alimentos seriam incorporados à sua cozinha, como feijão, milho, aipim, amendoim e diversas frutas. Na Alemanha, era comum o agricultor possuir sua casinha de defumar pernil de porco, lingüiça, toucinho e costelas, assim como viria a ocorrer também em Dois Irmãos e arredores.

Acervo de Germano Schüür. Dia de carneação do porco, família trabalhando unida

Entra o chimarrão e a cachaça; começa a venda de carne de porco

Já por volta de 1836 verifica-se em Dois Irmãos que o chimarrão e a cachaça seriam por eles adotados. desde o início da colonização. O preparo da terra e o plantio eram manuais. Vendiam carne de porco, banha, torresmo, ovos e manteiga aos armazéns de secos e molhados, e com isso compravam o que não produziam. Com seis ou sete dúzias de ovos se fazia o rancho para uma semana.

TROPEIROS

Dona Wally Schneider, moradora de Dois Irmãos, recorda com saudosismo que “Nos anos 40 era moradora na Picada São Paulo, localidade interiorana. Para o Armazém de Secos e Molhados de Affonso Blume, levava os ovos e pegava açúcar, sal, querosene e ainda sobrava um dinheirinho para comprar uns dois ou três quilos de carne fresca. O armazém dos Blume adquiria carne de gado do matadouro dos Hoffmeister de Morro Reuter.”

No interior do extenso Distrito de Dois Irmãos, pertencentes ao São Leopoldo até 1959, esse era um dos aspectos do cotidiano em torno da produção na roça e os consumos de produtos que precisavam ser comprados nos armazéns, que eram os supermercados da época. FONTE JORNAL O DIARIO

Comentários
Comentário enviado com sucesso!

Chat Online