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ofício de 1969 destaca intenção de Dois Irmãos de atrair a Volkswagen para se instalar aqui
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Publicado em 12/09/2025 04:22
NOTICIAS

Em 2025 Dois Irmãos foi notícia no Estado e no País pela confirmação da instalação da Mahindra com sua fábrica de tratores, ela que já opera na cidade em prédio alugado há alguns anos.

A luta foi árdua para conseguir manter a fábrica de tratores indiana no município e só teve desfecho neste mês de agosto. Mas, não é a primeira vez que o Poder Público tenta atrair uma fábrica do ramo automotivo para Dois Irmãos.

Um ofício de 1969, portanto, 10 anos após a emancipação, dá conta do interesse de Dois Irmãos, em atrair a multinacional alemã Volkswagen. Pelo que se sabe, negociações não chegaram a ser iniciadas, mas, como diz o ditado, vale a intenção. Dessa forma, o vice-prefeito Juarez Stein (que enviou o ofício à redação) elaborou um texto comentando como teria sido e o que teria acontecido com o jovem município caso tivesse sido escolhido pela VW na época, assim como foi agora, em 2025, pela Mahindra.

Mas, o que teria acontecido se a Volks do Brasil realmente tivesse escolhido uma cidade de origem alemã para se instalar no sul do Brasil? Nos permitimos “entrar na brincadeira” (ou sonhar)! Para que o leitor tenha uma ideia, buscamos informações sobre a fábrica existente no ABC Paulista e os números são muito expressivos.

A carta foi endereçada pelo prefeito Léo Klauck ao bispo Dom Bruno (tio do secretário do Desenvolvimento Econômico, João Luiz Weber), o qual é homenageado neste caderno especial com matérias inéditas.

Troca de turno dos trabalhadores da Volkswagen na década de 1970 – Acervo VW do Brasil

VOLKS DO BRASIL

Para se ter ideia, são mais de 8 mil funcionários apenas na fábrica em São Bernardo do Campo, onde tem cerca de 100 hectares apenas de área construída (atualmente). Quem passa pela Anchieta roda alguns quilômetros na lateral da grande indústria, uma das poucas montadoras que restaram dentre as mais antigas do país.

“NADA ACONTECEU”

Neste conteúdo sobre a indústria, o vice-prefeito Juarez Stein escreveu um texto “ambientando” o assunto à realidade da época. O texto nos permite sonhar como teria sido. Juarez fez questão de destacar que “nada aconteceu”, mas o texto é rico porque dá uma noção de como poderia ter sido, caso a Volks tivesse optado por Dois Irmãos e não expandir em outras cidades, como S. J. Pinhais, São Carlos, São Bernardo e Taubaté.

Para que os leitores tenham ideia do que a VW significa para o país em termos de economia e geração de emprego, basta dar uma conferida no site da própria multinacional (à seguir):

A VOLKS

A Volkswagen está comemorando 70 anos no Brasil, sendo a maior produtora de automóveis do Brasil, com 24 milhões de veículos fabricados, além de ser a maior exportadora da história, com mais de 4 milhões de carros embarcados.

Além dos veículos da marca VW, a empresa também fabrica outros veículos do grupo no país, entre eles, a Audi.

 

Em seu site, a multinacional destaca algumas datas e números importantes:

-Nos anos 50, ocorreu a fabricação da primeira Kombi com 50% peças nacionais, em 1956.

– Outro marco histórico foi a inauguração da unidade Anchieta, em 18 de novembro 1959, com a participação do ex-presidente da República, JK, que desfilou pela fábrica num Fusca conversível.

– Situada na lateral da Via Anchieta, que liga a capital até as praias paulistas, a fábrica da Volks de São Bernardo do Campo tem área total de 1,6 milhão m², dos quais 994 mil m² são de área construída.

-Na década de 60, a história da Volkswagen foi marcada por lançamentos como o Karmann-Ghia (1962), Variant (1969) e TL (1970).

– Em 1976, inaugurou fábrica em Taubaté, em 1996, em São Carlos e, em 1999, a unidade industrial de São José dos Pinhais (PR).

O QUE DIZ O PREFEITO ATUAL

O prefeito Jerri Meneghetti destaca que a ação de escrever a carta foi um gesto audacioso e visionário do governo da época. “Teríamos, sem dúvidas, uma Dois Irmãos um pouco diferente, principalmente no que se refere a matriz econômica do Município. Possivelmente o setor metal mecânico seria a locomotiva econômica da Cidade. Com relação ao desenvolvimento, claro, dependeria em muito da condução dos gestores públicos. Mas acredito que, com o histórico de bons administradores que tivemos no passado, nossa Cidade estaria muito bem posicionada”, ressaltou.

O QUE DIZ A CARTA ENDEREÇADA A VOLKS

OF. 30/69

Dois Irmãos, 18 de fevereiro de 1969.

Caríssimo D. BRUNO:

Tendo assumido o cargo de Prefeito no dia 1º do corrente mês de fevereiro, quero, antes de mais nada, colocar-me à sua inteira disposição, bem como convidá-lo a visitar esta Prefeitura, quando de sua próxima viagem ao sul.

Além disso, informado que fui de suas ótimas relações com a alta cúpula da VOLKSWAGEM DO BRASIL S.A. e tendo sido simultaneamente noticiado na imprensa de que a Volkswagem e a Mercedes Benz, compradores da DKW, pretenderiam instalar a fabricação aqui no Rio Grande do Sul, submeto à consideração do grande amigo, confirmando-se a hipótese supra-citada, é óbvio, o plano de atrairmos esta grande indústria para Dois Irmãos.

Como vantagens que poderíamos oferecer à indústria, poderíamos inicialmente citar duas: 1º – A Prefeitura ou a Comunidade doariam dez ou vinte hectares de terra que se fizessem necessários para a implantação da mesma;

2º – Dois Irmãos fica a meio caminho entre Porto Alegre e Caxias, os dois principais centros produtores de peças e indústrias afins, ligada a ambos com ótima rodovia, a BR 116.

As vantagens que dessa instalação adviriam para o Município e região V. Excia, melhor do que eu sabe. De todas as maneiras, quer me parecer que a Velha Colônia Alemã mereceria esta oportunidade.

Gostaria, entretanto, de saber a opinião do ilustre amigo, bem como os passos iniciais a serem dados.

Sem mais, com um grande abraço, e colocando-me novamente à disposição do ilustre amigo, subscreve-me:

Atenciosamente,

LEO KLAUCK

PREFEITO MUNICIPAL

Ofício encaminhado a Dom Bruno pelo então prefeito Léo Klauck

TEXTO DE JUAREZ STEIN

 1969 – A Volkswagen em Dois Irmãos

Concluídas as negociações com a direção da Volkswagen do Brasil S/A, ainda em 1969, ano em que o homem pisou na Lua, a Administração Municipal, como de praxe, passou a contatar os proprietários das áreas escolhidas na Vila Seca, hoje, bairro Primavera, onde seria instalada a grande empresa. O propósito era conseguir todas as áreas necessárias mediante desapropriações amigáveis, o que seria alcançado com absoluto êxito.

Já em 1971, durante o Milagre Econômico (1968 a 1973), a empresa passaria a produzir o Fusca 1500 e a Variant 1600.

Entre os desafios mais temidos estavam a falta de água, que seria superado com a perfuração de poços artesianos; o custo da terraplenagem, que seria superado com o apoio prometido pela secretaria de Obras do governo do Estado; melhorias na rua, ou melhor, na antiga estrada para a Picada 48, até o encontro com a BR-116. O governo municipal comprometeu-se a promover melhores acessos à empresa nos próximos dez anos.

Os poços artesianos seriam perfurados pela secretaria da Agricultura.

Os veículos de comunicação locais – Rádio Progresso e Jornal NH – tratavam exaustivamente da questão. Moradores e empresários foram entrevistados. A euforia foi enorme. O Correio do Povo, da Capital, distribuído em pequena quantidade na sede do município, manifestou-se absolutamente surpreso com a conquista. Todos estávamos eufóricos!

Havia, ainda, um grande desafio a vencer: como conseguir energia elétrica suficiente?

Naqueles anos, qualquer vento um pouco mais forte derrubava a energia, quando não a rede com os postes. O fornecimento era muito precário e insuficiente. Em várias comunidades do nosso interior – o município tinha, então, 301 km2 – não tinha sequer eletrificação rural. Mas, apesar de tudo, os políticos estavam confiantes: “Tudo vai dar certo!, a CEEE é nossa!”.

Outra dificuldade seria superar a falta de telefonia. Tínhamos pouquíssimos aparelhos no município. Era um tempo em que se pedia a ligação à Central Telefônica que, não raras vezes, respondia: “Hoje, está difícil de conseguir completar as ligações!”.

Por fim, teríamos funcionários suficientes? Sim! É claro! O êxodo do nosso interior (Morro Reuter e Santa Maria do Herval) já estava acentuado. Já tínhamos 600 funcionários nas nossas fábricas de sapatos. Logo, mais e mais jovens viriam do interior – e da grande Porto Alegre – para trabalhar na Volkswagen. Como tantos outros, estes deveriam se instalar, mesmo que precariamente, em espaços alugados pelos mesmos. Com o tempo, com a geração de riquezas por parte da nova empresa, casas populares poderiam ser construídas.

Sim, o desejo de atrair a Volkswagen para o pequeno município de Dois Irmãos ficou apenas no propósito. Tivesse se concretizado – todos haverão de concordar -, o nosso município, hoje, seria outro.

*Por Juarez Stein FONTE JORNAL O DIARIO

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